MATANDO AULA
Além do mais, eu não tinha nada a perder, fora aqueles 50 centavos. Minha dinidade ficara sobre a escrivaninha de um superior, todo inchado de si, que se sentiu pessoalmente ofendido por conta de um par de linhas do meu Relatório Parcial de Atividades. Verdades impróprias que constavam no item 7c) Obesrvações Pessoais. O amor próprio, perdi aos poucos, enquanto me distraía com as rachaduras na parede. E tantas outras coisas, perdidas nos cantos da vida, que me reduziam àquele presente: de frente prá mim mesmo, no espelho rachado da porta de um bordel.
Entrei e era mesmo um bordel. Comum até, não fora a aura espessa de irrealidade que carregava o ar. Aura fruto do cruzamento da luz da entrada (doirada!)com a penumbra rubra de dentro (carne, sangue, cimento).
Pensei no que mamãe diria me vendo metido naquele lugar. Provavelmente aprovaria, afinal era um típico puteiro familiar: luz baixa, acomodações razoáveis, bebida batizadíssima, para evitar manguaça, tanto da parte dos clientes, quanto das profissionais.
Atrás do balcão, um gambá de pelo ralo servia um limpa-goela e esses drinques para mocinhas.Fui de cana mesmo.
GLUP!
Ele me olhou, desconfiando de que alguém como eu, se tinha algum com que pagar a birita, na certa não teria que bastasse prá bancar uma noitada com uma das lindas garotas que por ali pairavam, à espera de um sinal do velho gambá (depois fui saber, se chamava Janjá) para acometer a clientela.
Não me importei.
A moeda rodopia no ar: coroa.
Outra: GLUP!
Enquanto a talagada daquela aca ecoava, ricocheteando no meu crânio, observei um camarada que vinha bordel adentro:Veio entrando, gingando entre o cambaio e o desafio, entre o charme e o funk.
A princípio julguei ser outro gambá. Foi quando ele se virou, disparando um sorriso para ninguém (ou para si?) que se desfez em um riso. Riso que acabou desaguando em ganidos e guinchos, suaves e pertubadores. Num meneio e meio da cabeça angulosa, se revelou uma hiena, dessas bem esfoladas. Uns olhos bem fundos divididos entre o ouro da luz e o ocre dos fundos.
A essa altura, bem pouco me importava com meu futuro, que outrora perseguia obcecado. O jegue maldito, seu papagaio charlatão e aqueles papelinhos... já começava até a ensaiar uma certa repúdia àquilo tudo:"Vê se pode! Um burro e um papagaio de merda querendo me dizer o que fazer dessa minha vida!"
A hiena sentou-se no balcão. Não exatamente ao meu lado, mas próximo o suficinte prá me intoxicar com seu silêncio; escarnecia. Isso e uma caatinga azeda, própria daqueles que não se incomodam em incomodar o alheio, espraiavam sua presença pelo cabaré.
Tirou qualquer coisa do bolso do paletó. Um embrulho pequeno em papel alumínio que ele abriu cuidadosamente sobre o balcão. Naquilo se ocupou. Minutos. Muitos.
Além do mais, eu não tinha nada a perder, fora aqueles 50 centavos. Minha dinidade ficara sobre a escrivaninha de um superior, todo inchado de si, que se sentiu pessoalmente ofendido por conta de um par de linhas do meu Relatório Parcial de Atividades. Verdades impróprias que constavam no item 7c) Obesrvações Pessoais. O amor próprio, perdi aos poucos, enquanto me distraía com as rachaduras na parede. E tantas outras coisas, perdidas nos cantos da vida, que me reduziam àquele presente: de frente prá mim mesmo, no espelho rachado da porta de um bordel.
Entrei e era mesmo um bordel. Comum até, não fora a aura espessa de irrealidade que carregava o ar. Aura fruto do cruzamento da luz da entrada (doirada!)com a penumbra rubra de dentro (carne, sangue, cimento).
Pensei no que mamãe diria me vendo metido naquele lugar. Provavelmente aprovaria, afinal era um típico puteiro familiar: luz baixa, acomodações razoáveis, bebida batizadíssima, para evitar manguaça, tanto da parte dos clientes, quanto das profissionais.
Atrás do balcão, um gambá de pelo ralo servia um limpa-goela e esses drinques para mocinhas.Fui de cana mesmo.
GLUP!
Ele me olhou, desconfiando de que alguém como eu, se tinha algum com que pagar a birita, na certa não teria que bastasse prá bancar uma noitada com uma das lindas garotas que por ali pairavam, à espera de um sinal do velho gambá (depois fui saber, se chamava Janjá) para acometer a clientela.
Não me importei.
A moeda rodopia no ar: coroa.
Outra: GLUP!
Enquanto a talagada daquela aca ecoava, ricocheteando no meu crânio, observei um camarada que vinha bordel adentro:Veio entrando, gingando entre o cambaio e o desafio, entre o charme e o funk.
A princípio julguei ser outro gambá. Foi quando ele se virou, disparando um sorriso para ninguém (ou para si?) que se desfez em um riso. Riso que acabou desaguando em ganidos e guinchos, suaves e pertubadores. Num meneio e meio da cabeça angulosa, se revelou uma hiena, dessas bem esfoladas. Uns olhos bem fundos divididos entre o ouro da luz e o ocre dos fundos.
A essa altura, bem pouco me importava com meu futuro, que outrora perseguia obcecado. O jegue maldito, seu papagaio charlatão e aqueles papelinhos... já começava até a ensaiar uma certa repúdia àquilo tudo:"Vê se pode! Um burro e um papagaio de merda querendo me dizer o que fazer dessa minha vida!"
A hiena sentou-se no balcão. Não exatamente ao meu lado, mas próximo o suficinte prá me intoxicar com seu silêncio; escarnecia. Isso e uma caatinga azeda, própria daqueles que não se incomodam em incomodar o alheio, espraiavam sua presença pelo cabaré.
Tirou qualquer coisa do bolso do paletó. Um embrulho pequeno em papel alumínio que ele abriu cuidadosamente sobre o balcão. Naquilo se ocupou. Minutos. Muitos.
Eu eu só ali, olhando, tentando perceber qualquer coisa. Me revirando atrás de uma razão para estar ali, além do fato de não poder sair sem acertar as contas e não dispor dos arames para tal.Pensei novamente que acabaria me acertando mesmo é com o gorila de gravata da porta. Me acertando com ele, ou ele me acertando...
Além do mais, supondo que saísse, para onde ir?
Prá onde ir?
Prá onde?
Ir?
"Vem prá cá, vem prá cá!" resoou um voz quase familiar. Olhei e era o hiena, que agora respirava através de um charutasso, dos fortes, que ele manufaturara enquanto eu me distraía com os desenlaces improváveis daquela cena.
Improváveis? Era pouco.
Mal sabia eu, o que viria...
...mais suspense (já tá na hora de acontecer alguma coisa, né?)...
Telônios
Imagem: Coisas n° 2
Foto do Ze
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