Antes eu trabalhava em escritório, esperdiçando suor salgado em um cotidiano insosso.
Só dormia e lavrava. Sono era leve, labor pesava.
Agora mudou...
Noutro dia, por exemplo, parece que nem deitei e já sonhava, quando o delega gritou: "RUA!"
Zonzo, fui me levantando, montei na Barra Forte e deixei a DP pedalando, suave.
Toda aquela confusão só por uns par de caipirinha, três maços de cigarro, chopps e porções. Era caso prá tanto barulho? Eu digo: "Não era!".
Era?
Se comi e não tinha prá pagar, é correto que me enquadrem no xadrez? Lugar onde menos poderia levantar algum com que pagar as pendências?
Certo seria, me deixassem ir, de bucho cheio e sem suor?
Isso é que não!
Mas então, qual seria a certa medida a se tomar? Se eu tomo e não pago, me nego?
Me pegaram. Me perguntaram.
Falei de cara limpa: "Fiz!".
Me carregaram. Encarceraram.
Em meia hora, lá estava eu, na rua de novo. E tanto barulho por nada!
Rotina: "Sofrer é profissão de vagabundo".
No fim das contas, ninguém pagou ninguém, comi, bebi e dormi no alheio.
Me saí mais inteiro no fim do expediente, barriga cheia e cabeça limpa.
Pergunta: "É direito?"
Já não penso. Hoje só durmo e descanso...
Telônios
trabalhar. (Do Latim vulgar *tripaliare, 'martirizar com o tripaliu (instrumento de tortura).
Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa.
II edição, revista e ampliada. Editora Nova Fronteira.
Rio de Janeiro, 1986.