terça-feira

Sujeito de aspecto curioso: um par de suspensórios lhe conferia um ar de seriedade obsoleta, desmentida pelas pisadas que dava em degraus que só ele via. Sapatão de couro, outrora valeu ouro e agora punha água prá dentro e o deixava dedão prá fora. O resto era de acordo com os restos: amarrotos e sujados.
Espiava e sonhava, vendo a juventude exercer sua juventude na beira dum bar com música ao vivo. Ele, morto, do lado de lá da rua, nalguma calçada da República.

Escavocou no fundo do buraco das oreia. Catando piolhos entre os neurônios prá ver se algo parecido com caldo se extraía dessa mente sacana. O cidadão ali me olhando como quem diz: "Por que é que você não vai tomar no olho do seu cú?" Mas nada dizia... só olhava.

Dali há um tempo, aproximou-se e perguntou se eu queria comprar pó. Erva? Doce? Erva-doce?

Que estranha mania que as pessoas têm de me oferecer todo tipo de muamba proibida! Até chego a pensar que é só comigo, problema meu.
Nada! É com todos: quem não quer?

Mas será essa a questão? Talvez o direito fosse perguntar: Quem não tem?
Quem não tem, quer. Quem quer caça. Quer queira, quer não, um dia acha, pois esse é o destino inevitável dos que procuram.
Assim diz o ditado...

Quis me passar um comprimido: 50 paus.
Pechinchei: isso não tenho...
Amoleceu: 35 conto.
Mendiguei: 15 pilas.
Negócio fechado!

Ah! Ele queria que fosse! Voltei prá casa com meus quinze conto, ele tomou sua aspirina e foi dormir...
Assim diz o samba: Laranja madura na beira da estrada, tá bichada, Zé, ou tem marimbondo no pé.

Eu creio. Sobrevivo.

Um comentário:

Dante Kimura Castanha disse...

Fiquei sabendo de outros que tomaram essa aspirina e cairam no conto do vigário!!! Eita mundinho doido!!