quinta-feira

Telefornica

Já acordara meia aflita.
Saiu de sandália e mini saia, depois de ter tentado uns quatro outros modelitos.

Naquela dia de sol chapado e alfinetes na cabeça, ela não encontrou o seu sossego.
Nenhuma posição lhe parecia confortável.
Ansiedade e tremedeira...

Sequer pensava (ou fingia com toda força que não pensava) no rapaz da noite anterior.
Contentou-se em arquivá-lo na gaveta dos "mais idiotas do mundo", com tantos outros pretensiosos pretendentes que já passara prá trás e outros que ainda encontraria pela frente...

À noite, não dormia. Não podia.
Tinha coceira nas tripas. Comichão morno na barriga, do lado de dentro.
O corpo implorando por seu momento, dentro.
A camisola de seda ficando apertada...


Era ainda baixa madrugada, e ela determinou que já não ia poder dormir.
Nenhuma posição lhe era confortável.
Nem água de beber, nem de banhar, de banho ou de cheiro, abrandava a brasa que ardia nela. Dentro.

Quarto fechado, janela aberta.
Inquieta na cama desgrenhada, a mão esquerda discou um número quase estranho, mas já decorado; enquanto a mão direita procurou os embaixos da camisola.

"Alô"

Um rapaz atendeu do outro lado da linha.

"Olá"

Ela trocou amenidades pelo telefone, conduzindo a conversa sem notar, enquanto mergulhava para dentro de si mesma, mal contendo o tesão que derramava em suspiros e gemidos.
Os dedos brincando de montanha-russa na virilha.

O papo foi ficando entrecortado pelo sotaque dos anjos e ela já não discernia palavras, só ouvia a voz distantemente. Respondia se podia, naquela linguagem dos amantes, que agente só sabe falar quando esquece todo o resto.

Ja reluziam as coxas, tingidas pelos fluídos primordiais que escorriam.
Chuvarada. Cascata. Enchente. Vazante. Dilúvio!
Ela explodia.

Saciou-se:
"Então tá. Beijo. Tchau."

E se desfez em sono grato...

Do outro lado, o rapaz custou a entender e custou a dormir.

Telônios, à Pê