segunda-feira

"Prezado Senhor X:
Quisera eu alcançar um tal grau de auto-consciencia anal, para desenhar linhas tão belas e recheadas de sabedoria como essas que descarregaste.
Porém, tenho andado um tanto envezado, cheio, quero dizer. Tal desconforto me prende o intestino de maneira que só consigo escrever merda.

Quem sabe poderias me guiar, pelas obscuras sendas retais da filosofia do bem-cagar?
Rogo para que ilumines aquele canto escuro, onde o Sol não brilha, para que mais uma vez eu possa de desfazer deste imenso peso que carrego.

Grato pela atenção dispensada

Humildemente

Sr. Bostolho"



Eh meu rapaz cagar eh bom, mas alcançar o auge das técnicas bostais,ou seja, a cagada perfeita,eh uma arte que poucos conseguem.

Essa arte secular consiste em cagar um único charuto, onde o aglomerado de putrefatos alimentos não absorvido pelas microvelosidades devem conter uma quantidade de líquidos e sólidos harmoniosa o suficiente para que a consistência da mesma esteja propicia para que a merda coaja de forma tão espetacular com a gravidade saia em uma linha reta perfeita, e como dito antes em um único gomo. E por ultimo e principal fator para uma cagada perfeita que eh não ter que limpar seu ânus depois, ou seja, a merda sai e seu cu fica intocado.

Eh verdade, isso eh possível, esta comprovado que há pessoas que conseguem e esporadicamente ouve-se historias de que pessoas sentiram os sintomas foram se limpar e zaplau nem sequer rastros ou freadas.
Houve um estudo que constatou que, pelo fato do cocozao sair em uma linha tão reta em relacao ao centro da terra, ela não encosta nas paredes ou pregas, mantendo um melimetro de distancia do cu ao se dilatar em movimento de entecipacao fecal.

Existe outra técnica que eh para iniciantes que eh a de peidar e cagar ao mesmo tempo, e se sua imaginação não lhe completar o quadro dando lhe uma vaga ideia de como seja, eu te contarei na próxima vez...

Senhor X

Jonão e Telônios

sábado

O Tempo do Homem que Monopolizou o Mergulho

Tinha esse país e tinha um grande Homem, e estava tudo correto. No começo da manhã, quando o sol rosado despontava, uma grande fila começava a se formar na frente do portão de metal, que abria pontualmente às 06:00 horas. A fila começava a se arrastar, enorme que era, pelos quarteirões rodeados de cachorros e cachorros quentes, que se aproveitavam dos lixos humanos proliferando. A carreira se agigantava ao longo do dia, e os ladrilhos pisados da calçada iam endurecendo debaixo do falatório, da tagarelice, da impaciência dos homens. Muitos deles chegavam ainda pela noite, sem estrelas, e esperavam entre o ar mais frio da madrugada uma dianteira. Esperavam nunca mais esperar, no meio de cobertores velhos e sapatos, marmitas e álcool, palavras trocadas sem gosto, sal, sono. Um passo à frente, o portão aberto espera os homens com calma, e com calma todos são revistados entre os cabelos, no peito e costela, debaixo dos braços, genitália, pernas e pés. De frente e de trás, a confirmação da entrada é a garantia de nenhuma arma branca, gente preta ou qualquer perfurante. Inalantes e líquidos também são proibidos, mas podem ser retirados na saída, pagas as devidas taxas.


***

Quando andava pelas pedras que rodeavam a praia de sua infância, o Menino sabia muito bem onde pisar. O mar ali era muito recortado, e de longe não se podia ver muito bem o que era menino, o que era bloco e pontas de pedra. O Menino não se mexia, perdido entre a linha da onda e da brisa fresca, e assim passava, um após o outro, os dias. De vez em quando um pássaro-agulha costurava a água, buscando um peixe pra sumir no azul. Mas certa vez, como nunca antes, o Menino levantou, puxou um naco de ar e pulou, de cabeça, pra sumir na maré.


***

O local é um galpão muito alto, feito com pedras de granito cinza, e era o único lugar desse país onde todos podiam entrar na fila e esperar tanto, por algo tão esperado. Por isso que todos esperam.
O Homem teve realmente uma bela idéia, e foi belo quando, em meio às lágrimas descobriu o sentido de tudo, e quis mostrar à Humanidade como isso era. Começou muito de pequeno, e com muito suor, sangue e estudo, conseguiu erguer um quartinho. Dentro desse quarto se dedicava o dia todo a aperfeiçoar o seu mecanismo, que abria à experimentação nos fins-de-semana. Como se fosse obra de Deus, ou do Diabo mesmo, um ano depois conseguiu um terreno perto do Centro da cidade, onde suou alguns anos mais de sua vida para erguer quatro paredes que deram lugar a uma sólida estrutura onde ninguém, ninguém jamais pôde sair como havia entrado.
Construiu um sonho e o ofertou a preços módicos, a todos. A plataforma ocupava o centro do galpão e tinha muitos e muitos metros medidos, tanto é que se demorava vinte minutos a subida. Lá, duas mulheres muito bonitas e peitudas sorriam e amarravam os pés dos homens bem forte. O indivíduo andava até o fim da plataforma e se deixava cair com os braços cruzados no peito, os olhos bem abertos, e assim a fila corria. Quem chegava lá embaixo ficava a alguns milímetros da superfície da água, contida dentro de uma piscina redonda. Sorriam.
A fila caminhava passo a passo e cada homem repetia os gestos necessários, com uma sanha de medo e alucinação dentro da barriga. Enquanto esperavam, ouviam mais uma vez a história do Menino, contada muitas e muitas vezes desde todas as infâncias. E a história aqui ainda se repetia no meio de grande comoção. E todos podiam sentir pela primeira vez o ar frio lá de cima da plataforma, passeando entre os cabelos na queda com os olhos abertos, a respiração presa e o coração sufocado, frente a frente com toda a água e tão perto dela. Dois centímetros do nariz, o reflexo da água olhava dentro dos olhos de quem encarava. O que viam? E, pendurados pelos pés, os homens viravam pêndulos de um tempo que só parava um pouco, pra continuar sempre correto.
Dizem que certa vez um homem do interior, sem querer, deixou cair o relógio de pulso na água e endoidou, pois teve um visão.


Carolzinha.

terça-feira

Dia frio, ler um livro...



O gelado do meu pé esquerdo, todo meio húmido, me acordou.

Pior que começar o dia com o pé esquerdo, é começar o dia com a meia do pé esquerdo molhada!

Me veio uma frase na cabeça: puta que o pariu!



Fora isso, era a chuva lá fora. A fábrica buzinando, o ônibus buzinando, os povo fingindo que não era segunda-feira; mas eu sabia: era!



Dentro tinha goteira, e pinga ni mim! De fora tinha a chuva, minha cúmplice, desolando a paisagem.

E da goteira veio a gota d'água, pingando na ponta do pé, prá fora da manta. Toda ela insuficiente, conspiratória.

Estiquei o olho esquerdo semi-aberto pro despertador. Assassino dos meus sonhos, que repousava ali do lado, tenso, contando os segundos para abrir o seu maldito berreiro: pi-bibibibibibibibibiiiiiiiiiii.

Acordador: invenção do belzebu!

E ele me disse: ainda cedo, mas já tá tarde...



Fui a alfa meditar, e foi assim que decidi: decidi não ir. Decidi não ir e ficar!



Fui ficando...

- três meses depois foi encontrado morto por inanição no próprio leito, com um grande cigarro de maconha (meio fumado) nos lábios arroxeados.

Telônios

quarta-feira

Uma coisa das Antigas...

33

Fechou a porta de saída como quem esvazia. Esvaía umas idéias madurando que cresciam nos últimos dias, saindo que nem espinhas e pipocando pelo rosto mesmo. O sentimento era de estupefação.


- Eu pego esse maldito!


Todo esse roteiro, lágrima sobre um tanto de tranqueira, roupas véias e pó, mofo e cachorro molhado, baguios de toda maneira, caraminholas e minhocas, juntas num caldo bem forte que é o pessimismo da moça, feita perfeita para amar! Ugh! Saiu por aí precisando andar, por que agora que não é mais tão só precisa se encontrar. Como se jogasse um esconde-esconde consigo mesma, procurou caçar uns problemas por aí. Arranjou o jeito de dar nó em cobra, se afobou demais e parou de novo pra pensar com força. Uns negócios carcomendo, nada muito claro aparecendo, isso juntando com aquilo e uns nós amarrando tudo e mais. Tenta:


- Vou fazer a lista das queixas, tudo dando pitaco, o copo meio vazio, a cama desarrumada, puta moleque chato, reclama de tudo, invade tudo, fica com cara de bosta, num lava uma louça, não sabe cantar nada, anda torto, não fala que eu sou bonita, não gosta de sair de casa, eu tenho que ficar agradando, eu tenho que ficar sofrendo, se ele tá aqui é meio ruim, se vai embora é ruim inteiro, eu não posso nem ficar triste, tenho vergonha do meu cabelo, se eu baixo a guarda ele repara fica falando, mas o pior é quando pára! Eu não sou mais nem apaixonada, nem poesia eu faço mais. Minha alegria ficou dura, ela demora um tempo: misturou com a água que eu bebo, se não me esforço nem percebo. A lista das queixas continua, o copo meio vazio. Se é meio vazio eu deito. Eu paro. Tanta coisa pra pensar. E quanto mais eu penso mais fica embaçado. Vou acabar com esse negócio. Não tá indo, não tá caminhando...


Mas a constatação vai virando cimento, que a gente cada vez põe mais areia. E toda pessoa sabe que a razão tem jeitos de ser cruel, então o cimento vai cimentando, unindo os blocos da menina.

Constatação...


O vento frio entra no nariz e pela nuca, saudade do sol, pouca blusa. O frio dá raiva, e a raiva agora é de tudo ser tão errado, como se todo o ódio se juntasse bem ácido num ponto da boca do estômago, desvirginando um conformismo doido porque raivoso. Sentiu que nada era imune. As casas ao redor, todas magoadas, baixavam a cabeça: sim senhora.


- Que cê ta olhando?


A rua humilhada, tudo esmaecia, a noite desmaiava. Já viu uma mulher braba?

Tudo em volta conspirava, chegava no pé do ouvido e soltava um urro.

- Filho da mãe descabacento! Vou lá porque isso não tá certo! Tem que acabar!


Já estava na rua detrás, foi fácil mudar a rota pela viela, andar mais um pouco, a mil. A mina com a boca seca chegou na porta do amado, pobre coitado.


- 33, sou eu, abre aí pra gente conversar.


-Entra, que foi?


- Nhé.


Deu um beijo jogado, nem precisava.


A sala rodava em volta dos dois. O único som era o estalar dos dedos, a novela das oito.


- Vou dizer logo porque eu não sou molenga e falo o que penso!


- Tô ouvindo!


- Ó, meu mundo tá bagunçado, eu gosto muito demais de você, mas não tô agüentando, é difícil ficar junto, não sei o que vai ser (chôro).


Um sorriso tinge a boca do rapaz, que quase suspira de alívio:



- Se vira, nêga!



Carolina.

Gota de chuva de prata

"Era fim de junho.

Um menino, muito do pobrinho, choramingava lá no canto, vendo a lenha da fogueira de São João se queimar.
Para ele ali, naquela hora, nada era nada. Não ouvia foguete, não lia bilhete.

Era a última quermesse, e ela... continuava longe. Toda sorrisos do outro lado do pátio. Ele: lágrimas; e olhos.

Ali no canto da vida, os estalos da grande fogueira ponteavam seu sofrerzinho imenso.
Prá ele era novidade, sem ter o entender daquilo que lhe sufocava as tripas. E se desfazia em lágrimas.
O rapazinho tanto chorou que conseguiu até o que não queria: fez chover! Seu Pedro, de dó que sentia, fez descer do céu as águas, derramadas por anjos enrugados, prá ver se lavava tanta dor daquela terra.
Arruinou-se fogueira, quadrilha e noite dos mais bestas, que se deixaram impressionar pela garoa gorda.

Quem ficou viu, mas não pode contar. Nunca achavam palavras que bastassem para tanto espanto: o menino brilhava de luz, e a chuva que caía nele se derramava no chão. E eram gotas de prata pura!

Foi um milagre! Ou, quem sabe, alguma coisa que puseram no quentão...

Mas lá estava o menino, agora de pé no meio da praça, dançando encharcado nas derradeiras brasas da fogueira.

Alegria leve.

Dançou e bailou, dava piruetas. E agora ele mesmo é que era o fogo, aceso sob a chuva.

Dona Zéfa, a última a deixar a festa, contava na manhã seguinte o lindo espetáculo que assistira, daquele menino. Mas que não pode ver o último ato, vergada pelo peso do sono e da artrite.
Sabia somente que ele lá ficara, dançando.

Mais tarde, mais espanto: no centro da praça da matriz, onde ainda ontem ardia larga fogueira, as pombas pousavam leves na estátua de prata, que ali, em segredo, se instalara"

Telonios