segunda-feira

Flor da Pele

"A vida conspira."



Na certa, não era nada disso que passava na cabeça do Simão, enquanto ele amargava uma ressaca braba estiradão em uma cadeirinha de praia sobre as rachaduras da calçada.

Nada além de um domingo qualquer...



Nesse domingo, exepcionalmente, Simão poupara a vizinhança da reunião tradicional que promovia na frente de casa:

Cerveja, chinelo, casais desgastados. Frango frito, boi na brasa, música de nível baixo, volume em nível alto.



Na calçada oposta, do oitavo andar, um rapaz agradecia o silêncio, recebendo a primeira rajada de sol na cara, escancarando a janela...



Amargava uma ressaca igualmente braba, de maneira que os olhos dos dois se esbarraram, no feitio de um cumprimento. Um vendo no outro o peso da própria existência.



Esse laço fraternal se desfez tão logo ambos lembraram que não se conheciam. Voltaram a seus lugares:

Simão ativou seu radinho, e o radinho dizia: "Girassol /há teu cheiro em meu lençol"

O rapaz aspirou um perfume no próprio lençol, e o perfume não era seu, não era de girassol. Era perfume de flor: "Flor da pele".

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