terça-feira

Aparição

Conversar, não conversavam.
O corpo fala mais, pois fala no cheiro, no veludo e no movimento.

É claro, antes tem sempre um par de formalidades a cumprir:
"Boa noite"
"Boa noite"
"Dança?"
"Nome?"
"Calor?"

Calor!
Ela irradiava as beldades da forma e da essência, paradinha no fundo do salão de baile.
Ele batia suas notinhas sem parar, no jeito de um polvo-pavão, lutando prá arrancar qualquer ondulado daqueles quadris tão bem acabados. Um pezinho batendo, que fosse, marcando o contratempo...
Nada! Ela seguia irredutível.

Tiveram uma pausa. Ela se fez aparecida, ele chegou junto.
Perambularam procurando qualquer desculpa prá ser atracarem ali mesmo.

Não encontrando, ela tomou as rédeas e carregou o novo bibelô pro Paraíso.
O mundo se pintou de vermelho e bosta de coelho.

Se tornaram em ninho de cobra viva. No entrelaço de membros e braços, ele nem viu que ela lhe punha, com todo carinho, o laço no pescoço.
O laço era de contas amarelas, alinhadas num cordão fechado.

Ela foi se, de repente. Negou o convite:
"Não posso..."
E se sumiu no Sumaré.

A primeira coisa ele que sentiu ao acordar, sozinho, foi o aperto do cordão na garganta. Na garganta e no fundo do peito.

Nessa manhã começou sua procura.

Telônios

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