terça-feira

"Mamãe não quer, papai não deixa"

Não era a primeira, menos a segunda, vez que lhe enrolava.
"Te ligo", não ligava. "Te beijo", não beijava. "Te deixo", não deixava.
Desassossego tem forma?

Fez risoli, rondele e rocambole dele. Por conta disso, quem deixou foi ele, que se dizia, perguntando:
Quem cala não consente?
Se o som é a pergunta, não podia ser - a resposta - o silêncio?

Deixou de choramingos, deixou os compromisso e tirou a meia, que é prá melhor meter os pé na jaca.

"Fiz merda, que bom!" foi o que ele se disse, antecipando a manhã seguinte.
Se não me engano é o que ela diria também.
Se bem me lembro, mal me esqueço.

E fez, mas fez. Carência, vingança e cachaça, se combinadas tem mais peso. Na consciência.
Com o tempo, agente vai aprendendo a lidar com a culpa. Mas bem ali, no mais quente do beijo menos decente, a outra me aparece, de repente:
"..."
"Eu... hum, hã...
Tava ruim, mas depois melhorou, mas agora..."

Ela desferiu:
"Vai com os seus, que eu tô com os meus"

Ela foi.
Ele foi.

No dia seguinte, se falaram ao telefone. Suas vozes se acariciando feito lixa grossa.

Amanhã nos vemos. Amanhã saberemos.

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